Entrei no meu quarto e bati a
porta com força, estava com raiva! Mais uma vez lá fora, tinha cometido erros
que prometi não cometer mais. Então peguei o livro que parecia me esperar e
comecei a ler o Inicio da História. Como sempre, num súbito de me teletransportar
ao meio dela, me vi em um enorme e lindo jardim. Nunca tinha me sentido tão
bem, nunca sequer tinha respirado um ar tão puro, nunca em minha vida tinha
visto um leão correndo com um veado e muito menos com um dinossauro atrás
deles. As águas brilhavam com o sol e de cima se via a areia lá embaixo, no meio se
via grandes e pequenos peixes, juntos, como se dançassem numa melodia levada. Era
um rio enorme, que se dividia em quatro braços e que abastecia tudo que era
vida ali. Havia pedras preciosas para todo o lado. Tudo vibrava a presença de
Deus, tudo aspirava diversão e a tudo eu inspirava perfeição. Corri para as montanhas ansioso para contemplar tudo aquilo em um só olhar. Quando lá
cheguei, vi que tudo que Deus fez era bom.
Então fixei meus olhos em uma
cena inusitada que acontecia no meio do jardim, dois seres, da qual eu já
imaginava quem eram, estavam sentados embaixo de uma enorme árvore, muito
bonita e diferente de todas as outras; seus galhos criavam um desenho redondo e
levavam as folhas até o chão; os seus frutos eram desconhecidos para mim, mas
eram de boa aparência; sua sombra era enorme, era ótima para passar o fim de
tarde pensando na vida. Então, vi uma serpente descendo da árvore, lentamente.
Quando chegou ao lado do casal, começou a conversar com a Mulher. Eu daqui de
cima estremeci, de susto caí no chão sentado e meus olhos se encharcaram de
lágrimas. Desci correndo o mais rápido possível, corri como nunca e incrivelmente
não perdi o fôlego. Atravessei em meio aos animais, perguntei desesperadamente
a eles onde ficava a Árvore e eles me apontaram, eles não entenderam o por que
de tanta aflição. Corri gritando pelo Homem e pela Mulher mas só se ouvia o som
da natureza. Ao chegar ao meio do Jardim, a Serpente estava só, rindo e dizendo
para si mesma: Está Feito.
Já era fim de tarde, o Sol estava
quase se pondo quando senti a presença de Deus mais forte naquele lugar. O
SENHOR veio até o casal e por horas conversou com Adão e Eva enquanto
caminhavam pelo Jardim. Cada um dava sua desculpa e culpavam o outro pelo seu
ato. Então o SENHOR se cansou daquela conversa e achando culpa em todos eles,
chamou dois Querubins para nos levar para fora do Jardim. Quando atravessamos o
portão, olhei para tras e não vi mais o Jardim. E como num puchão, me vi novamente
sentado no meu quarto.
Então ainda com o meu livro
aberto, comecei a chorar e gritava indignado: “Como puderam? Por que preferiram
a morte? Por que escolheram perder tudo aquilo? Por culpa de vocês, olha quem
somos hoje! Ficamos afastados da presença de Deus! Vocês acham justo? O que
acham agora de conhecer o bem e o mal? Satisfeitos?” Cai de joelhos chorando,
puxei o edredom para o meu rosto, não queria ver e nem fazer mais nada.
Foi quando a porta se abriu e a
ouvi fechando novamente. Senti uma presença fortíssima, um sentimento invadiu
toda a atmosfera daquele quarto, soube na hora que era Amor. Ele se chegou
perto de mim e disse: “Filho, sente-se aqui ao meu lado.” Sentei-me ainda com o
rosto coberto pelo edredom. Ele sorriu achando graça e disse: “Não precisa ter
vergonha, esqueceu quem EU SOU?” Tirei o edredom do rosto e Ele pôde ver meu
rosto marcado, vermelho e cheio de lágrimas. Ainda sorrindo, continuou dizendo:
“Filho, eu entendo sua dor, sua indignação. Mas eu gostaria de lhe perguntar: Qual
a diferença entre você e Adão?” Constrangido e com a voz ainda embargada,
respondi: “Nenhuma Yeshua! Eu e ele somos pecadores e precisamos de Você da
mesma forma.” Para minha surpresa ele explicou: “Quase certo! É verdade que vocês
são pecadores e precisam de mim. Mas existe uma diferença: Adão e Eva quando
pecaram, por mais que soubessem que eles morreriam, eles não tinham consciência
do que aconteceria realmente a eles e a todos vocês. Só depois que foram
expulsos do Édem que foram começar a entender e viver longe de mim. Porém você
conhece a história, sabe quem Sou, sabe das consequências do pecado, vive a
graça de ter esse relacionamento restabelecido, tanto que eu estou aqui tendo
essa conversa com você. Mas ainda assim, tendo conhecimento de vivência de tudo
isso, escolhe pecar da mesma forma que eles, assim como fez há 30min. atras. A
sua situação é um pouco mais complicada. Hey, eu conheço sua natureza e sei do
que você é capaz. Olhe minhas mãos, repare as feridas nelas, as toque por favor.
Elas são a prova maior que através de mim você é livre da prisão do pecado. Mas só quando você entra em contato com elas que você é capaz de
escolher a Vida. Filho, não os julgue. Você teria a mesma conduta caso
estivesse no lugar deles.” Não sei como, mas tive coragem de olhar nos olhos
Dele. Me senti congelado, Ele foi fundo e viu o que batia em meu coração e o
que vibrava em minh’alma. Não parava de sorrir. Então se levantou, pegou nas
minhas mãos e deu um beijo no meu rosto. Foi até a porta e antes que saísse
disse: Eu sei que você entendeu. E se foi.